Moeda de troca, você tem?


Estar com S. Nelson é sempre um aprendizado.

Me lembrei de uma vez que fiquei hospedada na casa dele durante uma semana. Fui porque um dia ele me convidou e eu achei que recusar um convite desses seria muita desfeita, então fui para visitar mesmo, sem intenção de pesquisa formal. Fiquei lá, vendo ele tocar e construir rabeca, conhecendo melhor a sua família, o seu cotidiano. Já no final desse período ele me pediu pra cantar uma “música da minha terra”. Na época estava começando o Mundaréu e eu não sabia muitas músicas do Paraná, então cantei “Mocinhas da Cidade”. Mas ele queria gravar uma fita com as “músicas da minha terra” e eu...bom, eu não conhecia músicas da minha terra o suficiente para preencher uma fita cassete. Na hora eu percebi que não tinha moeda de troca! Eu estava lá, há uma semana, tinha aprendido muito e não tinha como devolver pra ele o conhecimento que havia adquirido sobre “a terra dele”com conhecimentos sobre “a minha terra”.

Fico pensando que isso acontece muito e em Curitiba, por exemplo, é comum encontrarmos pessoas que querem ir pro Nordeste, como eu fiz, mas que conhecem muito pouco da cultura popular “da sua terra”. E aí essa relação fica manca! Porque só aprender e não trocar? S. Nelson não ficou chateado comigo naquela época por eu não saber mais “músicas da minha terra”, mas eu fiquei! Fiquei com vergonha, confesso! Dessa vez que fomos, eu e Carol tocamos pra ele e,depois de a gente gravar ele tocando, ele nos gravou tocando. E o mais interessante era o olhar atento do S.Nelson quando tocávamos, interessado, focado...como se estivesse aprendendo um pouquinho com a gente também.

E posso apostar que estava!

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Esse blog faz parte do projeto “Pelas Cordas da Rabeca” que investiga o diálogo musical entre os rabequeiros, a prática da rabeca em diversos contextos musicais. Esse estudo será realizado por meio de entrevistas, leituras e através desse blog. A idéia é escancarar o processo de construção da pesquisa, é compartilhar com os leitores do blog as indagações e reflexões que surgirem nesse período. Já que o mote da pesquisa é o diálogo, que ele aconteça também durante a realização dela!

Esse projeto foi contemplado pela FUNARTE, Programa de Bolsas de Estímulo à Produção Crítica – Categoria Interfaces dos Conteúdos Artísticos e Culturas Populares.

Daniella Gramani, pesquisadora e proponente do projeto
Caroline Pacheco, assistente de pesquisa

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