O Projeto "Pelas cordas da Rabeca"

A busca do diálogo entre as culturas populares e as artes eruditas no Brasil não data de hoje. Certamente Mario de Andrade é uma referência na história deste pensamento, mas essa prática me parece ser bem antiga. Desde a época dos jesuítas as artes foram um ponto de encontro entre os povos e se tornaram constantes a troca de informações, referências e influências na construção de nossa identidade cultural.

Na música (ou será nas músicas?) encontramos um forte diálogo entre as práticas do povo brasileiro e a chamada música erudita, bem como também em relação á música produzida para se tocar no rádio e na TV.

O projeto que proponho pretende investigar esse diálogo através da prática da rabeca no Brasil. Instrumento tocado nas folias, fandangos, cavalos marinhos entre outras expressões artísticas populares, que na última década têm alçado outros vôos, encontrando diálogo com a chamada música popular, bem como a música erudita. No cenário da música popular, muitos grupos incluíram a rabeca em sua formação, dentre eles podemos citar Mestre Ambrósio, Mundaréu, A Barca, Carcoarco e o grupo Anima.

Nesse projeto pretendo investigar os caminhos que levaram os músicos destes grupos à rabeca, aos mestres. Vou abordar as transformações que esse encontro de dois universos musicais distintos causou tanto nos instrumentistas dos grupos quanto nos mestres rabequeiros, buscando, de fato, analisar o diálogo entre as manifestações culturais contemporâneas, sendo elas advindas da formação musical escolar (normalmente é o caso dos músicos dos grupos) ou das brincadeiras populares.

Como estes instrumentistas conheceram a rabeca? Porque tocam rabeca hoje?
A rabeca, sendo um instrumento oriundo das práticas populares, traz em si uma série de conteúdos artísticos, de questões estéticas. Como estes rabequeiros lidaram com isso?
De que maneira o contato com a rabeca alterou o seu conceito de música? Como foi ou como é a relação destes com os rabequeiros tradicionais e com a música tradicional tocada na rabeca?

Do encontro dos músicos “de escola” com os músicos “das brincadeiras” acontece uma explosão criativa. Dois universos musicais conversam entre si e se transformam mutuamente e esse encontro é um marco na vida musical do instrumentista.

Esse interesse surgiu porque porque conheço pessoalmente muitos desses rabequeiros tradicionais e não-tradicionais, mas sem dúvida, por experiência própria e próxima. Meu pai, músico de formação erudita, encantou-se com a sonoridade da rabeca, ou melhor, com as sonoridades das rabecas. Para ele o instrumento foi um estímulo criativo que o fez compor mais de 90 músicas. A princípio seu interesse foi a liberdade musical que a rabeca o proporcionou. Pouco ele buscou sobre a sonoridade das manifestações populares que tinham rabeca, seu foco era o instrumento em si. Processo muito diferente do meu que foi impulsionado, por questões bem pessoais, mas também por um desejo de conhecer como é a rabeca no fandango, no cavalo marinho e como posso aprender, artisticamente, com a música advinda da cultura popular que tanto me agrada. Duas experiências diferentes que nos exemplificam como é rico e complexo o universo em torno da rabeca, da cultura popular e da criação artística.

No entanto o que me proponho aqui é estudar esse diálogo, e o que se caracteriza por ser uma via de mão dupla! Então se eu estou supondo que os rabequistas tradicionais influenciaram na prática dos músicos citados acima, porque não refletir sobre a influência destes músicos na prática dos rabequistas? Será que o encontro de José Eduardo Gramani e Nelson da Rabeca trouxe mudanças, reflexões e transformações para ambos? E o contato de Siba com Luiz Paixão?

Assim amplio o meu foco, pois uma reflexão crítica que pretende “identificar e reconhecer o diálogo ou referências concretas”, em minha opinião, deve observar em pé de igualdade os conteúdos artísticos das manifestações artísticas contemporâneas e das expressões da cultura popular.

Por ser um tema tão atual e por ter ganhado uma bolsa fornecida por uma instituição pública, sinto-me com o dever democratizar as minhas reflexões por isso incluí na proposta da construção dessa reflexão crítica a manutenção desse blog. Isso é, de certa forma “dar a cara a tapa”, pois estou me propondo a colocar no blog conclusões e reflexões ainda não amadurecidas, mas a idéia de poder trocar com outras pessoas e de colocar em cheque alguns posicionamentos de maneira mais dinâmica do que acontece normalmente na academia me atrai e já que a proposta do presente projeto é aproximar universos aparentemente distintos, porque não ampliar esta proposta tornando mais próxima a rapidez da internet com a qualificação da academia? Acredito o blog será uma importante ferramenta na construção dessa reflexão.

Penso que o ponto final (provavelmente reticências!) será dado através da elaboração de uma monografia que poderá transformar-se em uma publicação ou poderá ter suas discussões publicadas em artigos futuramente.

5 comentários:

Maristani Fernandes Martins disse...

Amei essa discussão! Leio muito sobre a rabeca há um tempo desde que a vi tocando no Mundaréu...e achei o instrumento com uma sonoridade curiosa. Vou acompanhar seus relatos!Sucesso ! Abraços.Maristani

Karla disse...

Parabéns Dani pela pesquisa!!Vou acompanhando pelo blog sua viagem!!"Latcho drom" pro c!!!
Beijão!!

Tupipa disse...

Opa, demorei uns 5 minutos pra achar como postar por aqui...rs. Eita analfabetice blogueira, mas consegui achar. Meninas, lindo projeto, adorei o forró do povo, publiquem mais e – acima de tudo – façam uma linda viagem e mais um novo capítulo dessa história bonita. bejo e sôdades, da papadora de lás...

cf disse...

Parabéns pela via dupla da pesquisa!Aguardo com carinho os passos que levarão às reticências...Candida

mel disse...

Olá Daniella!
Muito interessante suas propostas para reflexão.
Estudo a rebeca e tenho uma feita por Mané Pitunga.
Gostaria de poder contribuir...
Estive na zona da mata no ano passado,ao lado de Luiz Paixão,e tantos outros mestres do cavalo-marinho..Percorri cidades em buscas de construtores,mas este papo não cabe aqui,muita estória pra contar...vamos trocar umas figurinhas?
beijo,Mel

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Esse blog faz parte do projeto “Pelas Cordas da Rabeca” que investiga o diálogo musical entre os rabequeiros, a prática da rabeca em diversos contextos musicais. Esse estudo será realizado por meio de entrevistas, leituras e através desse blog. A idéia é escancarar o processo de construção da pesquisa, é compartilhar com os leitores do blog as indagações e reflexões que surgirem nesse período. Já que o mote da pesquisa é o diálogo, que ele aconteça também durante a realização dela!

Esse projeto foi contemplado pela FUNARTE, Programa de Bolsas de Estímulo à Produção Crítica – Categoria Interfaces dos Conteúdos Artísticos e Culturas Populares.

Daniella Gramani, pesquisadora e proponente do projeto
Caroline Pacheco, assistente de pesquisa

CONTATO

Daniella Gramani
(41) 9202-1660
daniella@gramani.com.br

Caroline Pacheco
(41) 9255-6428
carolbrendel@gmail.com

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